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Transformação Digital

29/09/2021 por Alberto Pezeiro

Cada vez mais organizações que nasceram com grande parte dos seus processos digitalizados, gerando grande quantidade de informações e dados, acabam se vendo com a necessidade de estruturar uma área de Excelência Operacional / Melhoria Contínua para rever e atualizar os seus processos, assim como responder de forma estruturada às necessidades não endereçadas dos seus clientes. Processos precisam ser atualizados ao longo do tempo para fazer frente às novas necessidades dos clientes e, também, para responder à pressão da concorrência e do mercado. Esse é o caso de muitas “Start-up’s ” .

Por outro lado, há as empresas que ainda possuem parte dos seus processos e informações em formatos “analógicos” e que vêm, no processo de transformação digital, uma grande oportunidade de combinar as iniciativas já existentes de Excelência Operacional / Melhoria Contínua com iniciativas de Inovação / Agilidade indo para um novo patamar de performance e competitividade (“Scale-up”).

Não importa em que lado você está dessa história, mas a grande questão que paira na cabeça de executivos do mundo inteiro é:
“Como posso tirar vantagem de um Programa de Transformação Digital combinando as melhores práticas de Excelência e Agilidade? “
Para uma “start-up” faz sentido pensar em ter uma área de Excelência e Gestão?
“Qual é o melhor momento para buscar a transformação digital na Organização e combiná-la com os atuais Programas de Gestão e Inovação”?
“Já estamos preparados para isso ou há elementos dos processos e indicadores que precisam ser resolvidos? “ Em outras palavras , será que ainda há espaço para melhori nos atuais processos antes de pensar num estratégia de digitalização e de análise de dados massiva.

O presente artigo, longe de ter a pretensão de ser um roteiro definitivo para iniciar um Programa de Transformação Digital preocupa-se, antes de mais nada, em levá-lo a uma reflexão e ajudar a pensar nas possíveis fases pelas quais programas de Transformação Digital ( “Digital Transformation” – DX ) passam e como a atual Liderança da Organização pode contribuir para o seu sucesso, principalmente se já há uma estratégia de uso de Agilistas e/ou profissionais de Excelência Operacional em andamento.
 
Transformação Digital: fases e prioridades
Modelo de transformação conduzida de forma a respeitar os Modelos de Gestão e Inovação já existentes na Organização, assim como preparar a Alta Liderança para adquirir novas habilidades e comportamentos que acelerem o Programa de Transformação.
Pode-se pensar, de forma macro, e de acordo com o foco, em 3 fases, que podem ser mais curtas ou longas de acordo com a maturidade do modelo gestão e de excelência operacional existente (ou não) na organização:

 •   DX 1.0 (Excelência Operacional – OPEX) – Maior foco na melhoria dos processos e dos indicadores
 •   DX 2.0 (Ecossistema Digital) – Maior foco na estruturação de uma área interna de desenvolvimento digital e/ou parceria com terceiros através de TI
 •   DX 3.0 (Modelo de Negócio) – maior foco na extensão da transformação para fornecedores, clientes, colaboradores, canais de venda e produtos / serviços digitais a serem ofertados.

Figura 1 – Fases do Modelo de Transformação Digital (DX)

Envolver a Alta Liderança enquanto executa os projetos e incorporar as soluções digitais ao dia a dia da Organização, transformando o Negócio e a Cultura, é parte fundamental ao longo de todo o processo já que novas habilidade e comportamento serão necessários para garantir a implementação e manutenção da transformação.  
Métricas de digitalização podem ser incorporadas ao longo do processo para demonstrar a evolução tática do Programa, mas o sucesso da jornada, no final do dia, será definido, principalmente, a partir do seu impacto sobre os indicadores tradicionais de mercado como, número de Novos Clientes, Receita, Margem, Velocidade de Atendimento , Satisfação do Cliente , Valor de Mercado, etc .
 
 Resultados Organizacionais: f (Digital; OPEX; ÁGIL; Liderança)
 
 
FASES
Fase 1 (DX 1.0) – foco na melhoria dos processos
 
OPEX 1.0:
 Na fase inicial do Programa de Transformação digital o foco é em garantir que as melhores práticas de Gestão da Rotina e Melhoria Contínua (Excelência Operacional) estão implementadas e indicadores servem para monitorar os processos de forma a levá-los ao nível melhor desempenho que a atual tecnologia permite.
Cabe a decisão da Alta Liderança em quais áreas focará para tirar o máximo possível da tecnologia existente em cada processo e quais áreas a melhor opção é dar um “salto de tecnologia” que pode lhe dar uma vantagem.
Metodologias e “frameworks” de Gestão da Rotina, Excelência Operacional e Ágil são compreendidas por todos os níveis da Organização, assim como melhores práticas para Desdobramento das Metas de forma a engajar os colaboradores no cumprimento dos objetivos da Organização.
São desenvolvidas habilidades analíticas na Organização através do uso de planilhas e softwares estatísticos, assim como habilidades para desenvolver projetos utilizando modelos mentais empíricos e/ou por experimentação (iterativos incrementais).
É uma fase de treinamento e formação intensiva da Alta Liderança e dos colaboradores da Organização nas melhores práticas de Excelência Operacional (OPEX) e Inovação (ÁGIL).
 
Há um modelo de desenvolvimento da Liderança em todos os níveis onde as novas habilidades e comportamentos são ensinados e cobrados, seja em Treinamentos, seja nos processos de avaliação de desempenho e promoção.
Há um modelo de sustentação da Inovação dos produtos / serviços existentes melhorando sua performance ao longo do tempo, assim como uma estratégia comercial para distribui-lo e entregá-lo a um nível de serviço compatível com a margem objetivo. Basicamente as inovações nessa fase são incrementais
 
Ecossistema Digital 1.0:
Infraestrutura de TI própria adequada a atender as demandas internas da organização, assim como atender as necessidades de digitalização dos processos e desenvolvimento de produto.
Canais digitais de contato com cliente para prover informações estão implementados e servem para divulgação de produtos e serviços.
Garantir que os Sistemas atualmente implantados e ERP estão sendo manipulados por profissionais treinados e capazes de tirar o melhor da tecnologia.
Onde há uma nítida vantagem para a organização pode-se buscar pela adoção de Workflows e “checklists” eletrônicos buscando digitalizar parte dos controles.
Conjunto de indicadores digitalizados (digital cockpit) provendo informação “real time” para tomada de decisão na Organização.
Definir uma estrutura de segurança digital e atendimento à LGPD e prevenção de vazamento de dados.
 
Transformação do Negócio 1.0:
Lançar experimentos de novos produtos / serviços digitais.
Usar as mídias sociais como parte importante da estratégia de Marketing da Organização (e-Marketing), assim como para atração e retenção de talentos (e-RH).
Digitalizar relacionamento comercial com novos canais de venda e análise das informações comerciais (CRM).
 
Fase 2 – foco TI e Integração
 
OPEX 2.0:
Onde há uma clara vantagem para organização e processos estáveis sem desvios considerar a estratégia de automatizar processos através de uso de RPA (Robot Process Automation).
Governança de projetos Ágil e OPEX a partir dos objetivos estratégicos desdobrados e/ou de problemas crônicos não resolvidos no dia a dia da operação.
Métricas implementadas em todos os níveis da organização com informação atualizada e contínua sendo usadas para aperfeiçoar os processos. Uso de ferramentas de BI (Business Intelligence) é uma prática corriqueira na Organização
Sistema de coleta de dados contínuo de informações para aperfeiçoamento dos processos e para aumento da confiabilidade dos equipamentos é adotado, assim como adoção da prática de análise de grandes bancos de dados onde há uma clara vantagem de salto de performance “Big Data “.
Treinamento de parte da organização em sistemas de estruturação de banco de dados e análise de informação. Linguagens como Phyton, R, SAS, SPSS, Minitab, entre outras passam a ser adotadas.
Onde houver possibilidade e uma clara vantagem competitiva estudar a instalação de sensores e atuadores para coleta de dados e ação sobre o processo (“machine learning “) eliminando as intervenções manuais.
 
Ecossistema Digital 2.0:
Definir a estrutura interna de recursos para desenvolvimento de soluções digitais para os temas que a Organização julga serem vitais manterem sob seu único e exclusivo domínio.
Desenvolver parceiros externos para desenvolvimento das soluções que não são vistas como vitais de serem mantidas sob sigilo.

Em estruturas industriais definir a viabilidade de ter um sistema operacional interligando os equipamentos e gerando informações para tomada de decisões para melhoria de processos ou aumentos da confiabilidade dos equipamento semelhantes ao “Predix” da General Electric, “Mindsphere” da Siemens, CosmoPlat , entre outros .
 
Transformação do Negócio 2.0:
Usar soluções digitais para transformar processos dos clientes e fornecedores.
Montar estrutura de atração de talentos e organizações que podem ser alvo de aquisição ou parcerias definindo se a Governança será feita dentro da estrutura de Inovação / TI existente ou se será uma área separada.
Montar um modelo de governança das parcerias e projetos com participação e aprovação da Alta Liderança.
Buscar soluções de inovação incrementais que complementam os Negócios já estabelecidos e que privilegiam fortalecer o Negócio atualmente existente (“Exploitation”).
 
Fase 3 – Foco na Transformação do Negócio
OPEX 3.0:
Dar continuidade à Governança de Projetos OPEX / Ágil envolvendo todos os colaboradores e áreas da Organização criando fóruns de compartilhamento de melhores práticas.
Ter um modelo de desdobramento de objetivos estratégicos e financeiros para definir projetos de OPEX convivendo em harmonia com um modelo de definição de projetos utilizando o Modelo Ágil com uma revisão de prioridade trimestral ou semestral. Garantir que os objetivos / aspirações de longo prazo estão sendo endereçados.
Garantir que os critérios de digitalização de processos, indicadores e produtos faça parte da definição das prioridades, assim como canais de inovação e busca de novas tecnologias.
 
Ecossistema Digital 3.0:
Integrar ao ecossistema digital parceiros, fornecedores e clientes (existentes e potenciais) de forma a criar uma teia colaborativa de desenvolvimento de produtos e serviços aumentando o número de colaboradores externos.
Oferecer ao mercado novos produtos customizados a partir dos dados e informações coletadas dos clientes. Aumentar a capacidade da empresa de tirar inteligência competitiva a partir das informações disponíveis
Desenvolvimento contínuo de novas funcionalidades das soluções digitais da empresa conduzidas por grupos dedicados a essa finalidade ou parceiros externos.
 
Transformação do Negócio 3.0:
Utilizar as soluções digitais desenvolvidas como forma de proteger o atual Negócio enquanto explora novos produtos que possam ser ofertados a partir dos formatos digitais desenvolvidos e dados e informações coletadas.
Criar modelos diferentes de precificação e atração de novo clientes. Desafiar os modelos tradicionais de geração de receita.
Tornar o negócio mais competitivo através da digitalização dos processos e aumento da produtividade dos seus colaboradores.
Buscar soluções de inovação disruptivas que possam gerar novos Produtos / Negócios que privilegiam escalar exponencialmente o Negócio atual (“Exploration”).
Como faremos a Governança e o financiamento do desenvolvimento das Inovações disruptivas? Desenvolveremos dentro de casa através de “Laboratórios de Inovação” ou buscaremos através de parcerias / aquisições / joint ventures?
 
Reflexões finais
 
A pergunta que muita organização deve se fazer é: quão crucial é entrar nessa Jornada de Transformação Digital e qual o grau de digitalização que devo impor aos meus processos? Isso me torna mais competitivo?
Estamos preparados para transformar dados em um ativo valioso ou corremos o risco de nos afogarmos em informação e indicadores e não gerarmos nenhuma vantagem competitiva com eles?
Qualquer empresa que nasça 100% digitalizada ou decida digitalizar parte dos processos existentes precisa começar a jornada respondendo essas perguntas.
Outra discussão importante é de onde virá o conhecimento técnico necessário para todo o processo de digitalização? Recrutamos, contratamos e treinamos recursos internos ou obtemos esses recursos através de aquisições e “joint ventures”?
O papel da Liderança e da área de Desenvolvimento de Pessoas será fundamental já que, em paralelo aos recursos técnicos específicos, teremos que treinar toda a Liderança e colaboradores para terem “pensamento digital “.
 Que pensem em eficiência (Excelência Operacional) enquanto reagem com flexibilidade e adaptabilidade às mudanças impostas pelo mercado e por novas tecnologias disponíveis.
Formar um ecossistema digital (interno e externo) e como fazer a sua governança e financiamento será grande um grande desafio a ser definido pela Alta Liderança e acionistas.
E, ao final, entender como a transformação digital afetará o mercado e a competitividade da empresa, pois não parece haver dúvidas que todos seremos impactados pelas inúmeras possibilidades que as novas tecnologias trazem.
Cabe definirmos que papel queremos ter nessa história:
Digital: protagonistas ou coadjuvantes ? ! ?
 
Imagem da capa por: Freepik

Bibliografia:
1) Kai Yang – “Hyper linked – how an ecosystem including the internet of things will change product innovation and quality “– ASQ Quality Progress – August 2020
2) Renée Pereira – “Em busca de Inovação, grandes empresas batem recordes de aquisições de start-ups” - Jornal “O Estado de São Paulo “ – 23 de Maio de 2021
3) Transformação Digital: repensando o seu Negócio para a Era Digital – David L. Rodgers
4- Michael Tushman e Charles O’Reilly – “Ambidextrous organizations: managing evolutionary and revolutionary change “ . California Management Review , v38 , n. 4 , 1996
5) Brad Stone - Amazon Unbound: Jeff Bezos and the Invention of a Global Empire 
AUTOR: Alberto Pezeiro CEO & Founder - SETA DG CEO e fundador da Seta Desenvolvimento Gerencial, Ex-executivo de RH, Gestão, Vendas e Manufatura da GE, FORD e VW. Foi professor de MBA e Pós Graduação na Fundação Vanzolini ( Poli – USP ). Tem grande paixão por ensinar. Vem dedicando os últimos 20 anos a ajudar as pessoas a se desenvolverem e, consequentemente, ajudar as organizações a terem resultados e performance melhores.
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